A crise, a empresa, e você.
- Ricardo Daumas
- 8 de abr. de 2020
- 4 min de leitura
“O treino para crise até existe, mas não é lá muito eficiente. Crises não tem muito respeito por protocolos então a solução não está nela, está em você.”
Ricardo Daumas, sócio diretor da SOLU9.com
A crise provocada pela disseminação do COVID-19 amadureceu, e a essa altura já temos certeza: não é uma crise, é uma calamidade.
Uma crise costuma ser pontual. Pode atingir muita gente, mas pode também ser linear, crescer em ondas. A solução pode estar em localizar, dimensionar e aguentar o tranco até terminar, pois acontece dentro de um ambiente controlado, com protocolos e leis. Uma calamidade não. Calamidade é como a guerra, não tem controle, não dá pra localizar nem isolar o inimigo e nem tem regras, pois uma bomba pode estourar ao seu lado a qualquer momento e pode ser que não tenha sequer pra onde levar os feridos. No começo pode até criar um círculo de proteção para os mais privilegiados, mas num certo ponto isso se dilui, fica todo mundo mais parecido e fragilizado, não tem pra onde correr. O que estamos vivendo, infelizmente, se parece mais com a calamidade, mas com alguns atenuantes.
Nossa calamidade, a se observar o comportamento em outros países tem começo, meio e fim, e depois convive-se com ela. A AIDs foi assim, a meningite (pra quem viveu e se lembra...) foi assim, a dengue e a chicungunha são piores que isso. A diferença é que nesses casos alguns grupos não se percebem atingidos, assumem ser um problema dos outros, mas não é, um dia chega perto, então é tentar se defender. Ela passa, e se fizermos a coisa certa, passa rápido. Vamos considerar isso bom.
O outro atenuante (estranho, reconheço) é que é grave, e isso mobiliza todo mundo. O poder público se articulou ainda que meio à alguma confusão, mas está atuando em quase todo canto, e pode ajudar. Mais uma vez, é questão de tentar se defender tanto quanto possível. Além disso, quando um problema atinge todo mundo vivemos um ambiente de exceção, e algumas soluções antes impossíveis ficam mais fáceis, pois negociar torna-se uma necessidade para todos. Melhor receber metade do que não receber nada de alguém quebrado, então vamos tentar não quebrar ninguém, e nos mantermos inteiros também.
A sua capacidade de reagir.
Os atenuantes são, em verdade, pontos de apoio que você deve considerar e usar mas, só vai conseguir percebê-los se passar da fase inicial que nos acomete em qualquer momento trágico: entender e aceitar que é uma calamidade, e por isso gastei tantas linhas falando disso. No início você vai negar, fingir que não é nada. Depois vai ficar revoltado, indignado, procurar culpados, e se ainda está nesse momento nem vai terminar de ler esse texto, de tanta raiva.
Essa fase de negação e raiva vai passar, não sem um momento de desânimo, com aquele sentimento de batalha perdida, mas passa, e finalmente você vai começar a agir. Assumir que as perdas vão ocorrer, e que você, pessoa ou empresa, precisa arrumar as coisas para poder seguir em frente, e sobreviver até o vendaval nos deixar com suas inevitáveis marcas. Vai ser difícil, e muito mais difícil para uns do que pra outros, mas vai se resolver. O importante é conseguir superar as fases acima bem rápido, e começar a se organizar. Ajuda muito se você conseguir separar um tipo de problema dos outros. Continuamos falando tanto de pessoas como de empresas, e podemos tentar organizar isso em 3 grupos:
· Minimizar as perdas: negociar os custos (todos!), diminuir o consumo, tentar caminhos novos para fazer dinheiro, adaptar as rotinas ao novo ambiente, rever os horários e substituir necessidades perdidas por coisas novas, experimentar com coragem.
· Cuidar das pessoas: amigos, família, parceiros pessoais e profissionais, clientes, funcionários, fornecedores. Gente. Se todo mundo a sua volta souber que você está ciente e presente não apenas vão te ajudar, mas principalmente deixar de ocupar seu tempo com preocupações. Se você for deixar de pagar alguma conta, avise. Se for faltar a algum compromisso ou com alguma promessa, avise também. Veja se estão precisando de algo, sem medo, pode ser uma troca boa. Muitas vezes criamos problemas porque imaginamos expectativas inexistentes dos outros. Não carregue isso. Todos sabemos que é um momento de dificuldade então, abra o fluxo. Vai te fazer bem, e à sua empresa também.
· Preparar a saída: uma hora isso vai acabar então, reserve algum tempo para imaginar quais serão as dificuldades, as necessidades e até mesmo as oportunidades no desfecho da calamidade. Sobreviver é mais importante no momento, não tenha dúvida, mas quando você conseguir organizar as necessidades básicas vai precisar de motivação, então projetar um futuro vai ser importante , melhorar sua saúde mental e emocional. Pensar num momento melhor é sair do espectro sombrio da crise. Não deixe de fazer isso.
Expostas à extrema tensão pessoas tem dificuldade de visualizar as soluções, e grupos organizados batem cabeça, correm todos para a mesma bola como crianças pequenas num jogo de futebol. Dividir seu tempo ou organizar os colaboradores de sua empresa em grupos é fundamental para que as coisas aconteçam. Os desafios podem ser encarados separadamente e gerar resultados. Quando a gente põe as coisas no papel materializa e traz realidade à situação e acreditem, a realidade nos ajuda a dimensionar os riscos e esforços necessários. Ilusão numa hora dessas, garanto, só aumenta a ansiedade.
Escrever nesse momento é de muita responsabilidade, e requer respeito. Pessoas estão passando por problemas graves e com dificuldade para reagir, ainda que preparadas e organizadas. Se é o seu caso, não se acanhe, não se envergonhe e não se culpe. É um momento sem precedentes para quase todos nós, mas pode ter certeza de uma coisa: Vai passar, e nós vamos lembrar desse ano como um momento de sofrimento e superação, mas também de união, de descoberta de novos talentos e de uma força acima do que conhecíamos. Fique bem, e não fique sozinho, mais que nunca é importante lembrarmos que dependemos uns dos outros e embora afastados, estamos juntos.
Boa semana pra todos!

Ricardo Daumas
daumas@solu9.com.br



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