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Novos nomes para os problemas de sempre

  • Foto do escritor: Ricardo Daumas
    Ricardo Daumas
  • 20 de out. de 2016
  • 4 min de leitura

Participar de uma reunião de negócios com essa gente bacana da nova economia pode ser um desafio, principalmente se você é daqueles que se incomoda em levantar a mão e dizer que não está entendendo. Termos como inbound sales, mídia programática, economia de colaboração, retargeting, contente marketing e muitos outros vão se multiplicar a sua frente, e olha que ainda nem começamos a falar de TI, e nem de programação.

Essa enxurrada de novas práticas ligadas principalmente a recursos digitais e mídias sociais parece crescer numa velocidade insana e criar possibilidades em muito maior número do que somos capazes de absorver a tempo de usar em nossas vidas. Não é apenas uma sensação e nem é apenas sua, a evolução é muito rápida mesmo, e se converte quase que de imediato em novos e bons recursos tanto no ambiente profissional como no pessoal, mas nem tudo é uma questão de fascinação pela tecnologia. Por trás das traquitanas digitais de sucesso quase sempre há um problema real e concreto a se resolvido, e na maioria das vezes nem é um problema novo.

Vamos buscar dois exemplos relativamente recentes, mas que já se tornaram empresas gigantes e bilionárias, presentes em todos os cantos do mundo. Uber, e Airbnb, nascidas e criadas no seio dessa revolução que mistura tecnologia digital e compartilhamento de recursos. O que elas têm que as faz se diferenciarem em seus respectivos mercados, e o que tem em comum entre si?

Para a primeira pergunta você diria “tecnologia de busca digital e geo referenciamento, disponíveis em qualquer smartphone do planeta”? .....Sim, mas quem não tem? Os táxis comuns já dispunham de aplicativos com os mesmos recursos, antes mesmo da chegada do Uber , e o mesmo vale para os hotéis, que há tempo já se oferecem por mecanismos de busca e avaliação virtual de comprovada eficácia. Outra resposta seria: “Estruturas virtuais, com baixo custo de operações e gestão e pouco investimento em ativos?“ Huuummm, já não mais. Hoje são grandes empresas que contratam executivos caros e mantém estruturas de tecnologia e gestão nada baratas também. A resposta então deve estar na semelhança entre elas com mais uma palavrinha enigmática e doce para os ouvidos dos investidores modernos, a tal da solução “disruptiva”.

Seja disruptivo ! Já ouvi muitas definições para o termo "disruptivo", mas vamos entender aqui como algo capaz de dar solução para um problema importante com um encaminhamento que foge a nossa lógica, ou aos nossos métodos tradicionais de resolvê-lo, o que o torna único, pelo menos por um tempo. É isso que Uber e Airbnb tem em comum, eles são (e tentam se manter assim...) disruptivos em seus respectivos mercados. Não por conta do acréscimo de tecnologia, ou não apenas por isso, mas principalmente por apresentarem soluções de menor custo e burocracia em mercados dominados por sindicatos, associações, lobistas, além de outras coisas comuns a qualquer segmento como impostos e excesso de controle do governo . Pense no exemplo dos táxis, que é mais fácil de entender. O taxi nasceu pra ser simples. Um sujeito pega o seu carro, pinta numa cor padrão, consegue uma licença na prefeitura e sai por aí ganhando sua graninha. Tem o DNA da moderna economia de compartilhamento, desde sempre, o que muda é que com o tempo tornou-se um negócio burocratizado e dominado por grupos que os exploram como empresas comuns, quase sempre. Com a sua solução o Uber fez uma assepsia nesses problemas, e com isso atraiu novos motoristas que não conseguiriam um espaço no antigo mercado, e investiu em preços baixos para fidelizar a clientela. "That's it", e o Airbnb é uma história muito parecida, uma volta às origens que , com o tempo, tende a se parecer cada vez mais com o mercado tradicional, pois ambos vão passar (e já estão passando...) por todo processo de regulamentação que vai findar por torná-los menos competitivos. A solução para se manterem competitivos terá de vir da manutenção na qualidade e diferenciação da oferta, vão ter que se empenhar por isso.

Não, eu não estou dizendo que tecnologia não é importante, mas sim que ela não é uma solução em si. Não é uma traquitana eletrônica ou um processo mágico para criar negócios bem sucedidos, precisa ser um caminho para resolver problemas reais, e de preferência que durem o bastante antes de serem copiados ou superados, isso sim é ser disruptivo, e isso sim pode fazer a diferença no universo competitivo dos negócios. Focar-se no problema ou na demanda original tanto quanto possível, e construir a partir dai uma solução que some recursos de gestão, tecnologia, parceiros e o que mais for necessário. Aqui se adequa perfeitamente o conceito (já vulgarizado...) de se “pensar fora da caixa”, o que significa investigar soluções fora das que o mercado corriqueiramente oferece. Eu sei, não é fácil, concordo, mas há processos para isso....

Tudo isso para te recomendar a não se deixar impressionar além da conta pelas conversas enigmáticas, com soluções tecnologicamente fantásticas. Se você não conseguir entender na primeira meia hora como elas podem te ajudar a trazer melhores soluções para a sua empresa, mude de conversa. Prefira aquelas que começam com uma boa descrição do cenário no qual você está atuando. Isso é sinal não apenas de respeito, mas de sensibilidade e conhecimento de causa. Se isso for conseguido, a tecnologia vem a reboque, e pode ajudar mais ainda. Boa semana para vocês !

Ricardo Daumas

SOLU9.com

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