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O e-commerce e (ou é?) o varejo.

  • Foto do escritor: Ricardo Daumas
    Ricardo Daumas
  • 22 de jul. de 2019
  • 4 min de leitura

“As ofertas e serviços propostos neste 10° evento E-commerce Brasil não deixam dúvida. As linhas convergiram e embolaram. Varejo, serviços e indústria encontraram no e-commerce finalmente um aliado, e prometem um casamento longevo. Confira.”

Ricardo Daumas, sócio-diretor da SOLU9.com

Quantas vezes você ouviu dos seus funcionários que as vendas no site atrapalhavam a loja física? Pois é, é provável que alguns ainda digam isso, e esse é um sinal de que alguém não percebeu ainda como as coisas funcionam, e funcionarão cada vez mais. Essa sensação fica clara para quem esteve na semana passada entre os dias 16 e 18 de julho no E-commerce Brasil, evento que cresceu, ganhou corpo e amadureceu nestes 10 anos de vida em São Paulo.

Palavras de ordem

Como toda feira que se preze essa ainda esbanja os vícios de atração/distração de todas as demais. Distribuição de brindes, captação de nomes (qualquer nome) e crachás passantes, bebidinhas, moças bonitas, joguinhos e sorteios. Para os menos carrancudos que eu, uma festa. Para mim, um obstáculo para chegar em alguma informação objetiva, as vezes gerando desistência. Não obstante, centenas de stands entre pequenos e médios (pouca coisa realmente gigantesca, os tempos são outros..) que se dividem na maioria entre agências, desenvolvedores de soluções, prestadores de serviços e softwares de toda espécie. Em linha (e talvez em evolução...) com o proposto na última evolução a integração dos diferentes canais é a tônica do negócio. Comunicação, distribuição, meios de pagamento, banco de dados, ofertas, logística. Quanto mais integrado melhor. Os softwares prometem um ciclo completo de serviços e soluções, e os desenvolvedores e agências, a integração e gestão unificada das funcionalidades. “Traga seu produto. Eu faço todo o resto pra você. Guardo, vendo, anuncio, cobro, entrego e devolvo resultados”

Amadurecimento

A ideia de entregar soluções ao invés de vender ferramentas parece ganhar consistência e aceitação, e isso acaba fazendo do evento um espaço muito mais dedicado a atingir empresas originarias do mercado tradicional, ou entrantes. O espaço se torna em certo aspecto sendo educativo, didático, seja pela orientação natural a uma visão completa do ciclo, seja pela exibição dos players de sucesso nas palestras e stands, e isso convém mais aos menos familiarizados com toda essa cultura. A tecnologia continua sendo o elemento base dessa mudança, mas a capacidade de gestão em função de resultados fica evidenciada como o grande desafio no mercado, e as ofertas de soluções completas nesse sentido se multiplicam. Leio isso como um registro de consciência do mercado. Em algum momento de um passado recente o e-commerce era visto como uma panaceia, uma solução para todos os males, uma coisa que dava certo incondicionalmente. Não sei se um dia chegou a ser isso mas, certamente hoje não o é. A compreensão da complexidade de gestão de um novo canal não é dominada por todos, nem pelos grandes, mesmo os enormes. Players consagrados no varejo tradicional têm tido dificuldade em manter suas operações isoladamente saudáveis, e o mesmo se pode dizer das grandes operações já nascidas no canal digital. Cada vez que um desses gigantes fracassa na sua missão de se expandir digitalmente emergem das trevas as visões catastrofistas sobre a viabilidade (ou a falta de ...) do canal, mas são leituras rasas, e os bem-sucedidos prosseguem enquanto os cães ladram.....

A moça da vez

Certamente surgirão opiniões diferentes, mas a minha “vedete” da feira não foi qualquer player global de tecnologia e mídia digital, mas sim o “nosso” Magazine Luiza. Seu espaço foi pragmaticamente organizado para mostrar a energia com suas novas aquisições, e arregimentar adeptos às suas lojas eletrônicas individuais. Pra quem não sabe, a Magalu (pros íntimos) é uma precursora nas vendas eletrônicas, não obstante ser um gigante no varejo tradicional. Entendeu como poucos a necessidade de não fechar os olhos às mudanças e necessidades do consumidor, e investiu ininterruptamente nisso, em diferentes frentes. Não tenho números e não posso garantir que foi a maior audiência da feira, mas a palestra oferecida por seu executivo de tecnologia lotou, literalmente. Com gente em pé teve que fechar as portas e convidar aos demais para assistir pelo telão no saguão principal, que lotou também. Quem viu teve a chance de entender a trajetória de sucesso da empresa que, depois de evoluir em soluções que proporcionassem uma experiência de vendas excelente pelo site, enfrenta o desafio de migrar os KPIs de agilidade e eficiência do site para a experiência das lojas físicas, um processo longo e perseverante mas que me parece natural, na medida que o consumidor começa a estabelecer padrões de qualidade únicos e que valem para qualquer experiência, em qualquer ambiente. Essa é a lição que o Magalu (ou seria “a”?) nos oferece, compreender que o consumidor cada vez menos se divide em “on e off line”, ele é simplesmente o consumidor, e quer ser bem atendido à sua conveniência. É o OMNI-consumidor estimulando a mudança de viés dessa história. Alguém que você precisa se acostumar a pensar como onipresente, e com quem sua empresa vai ter que aprender a se comunicar e atender seja onde for. Acha difícil? Quanto mais cedo parar de resistir a isso, melhor ou, como está na moda dizer em provocação, “aceita que dói menos”.

Uma feira como essa pode ser vista como um sinalizador da direção das coisas, mas eu prefiro percebe-la como um painel, um espelho do mercado, num país que tem enfrentado dificuldade para crescer, e para se empreender, e a minha percepção é de evolução, consistente e firme. Com o meu papel de “advisor”, no contato diário com diferentes empresas, percebo que a dificuldade de assimilar novas práticas já não é tão grande, pelo menos no plano das ideias. O grande esforço está mesmo em dividir os recursos entre internalizar as novas práticas ou pagar a conta da sobrevivência num mercado tão apertado, e que briga para se manter pelo menos estável, e nessa peleja eu opto por ser otimista. Acredito nas medidas recentes para fazer a economia se mover e entendo que elas vão encontrar um empresariado mais receptivo às mudanças, e uma economia mais afeita ao risco de investir. Espero estar certo. A tal década perdida pode ser revertida em um laboratório de aprendizado, e que pode produzir um mercado ativo, experiente e preparado para o crescimento. Quem tiver olhos pra ver, verá.

Boa semana pra todos!

Ricardo Daumas

daumas@solu9.com.br SOLU9.com

 
 
 

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