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Tudo que você não sabe sobre o seu público

  • Ricardo Daumas-SOLU9.com
  • 11 de jun. de 2019
  • 6 min de leitura

“O que mobiliza as pessoas hoje? Como elas são influenciadas, como fazem suas escolhas e qual a nossa capacidade de interagir com elas?

Ricardo Daumas, sócio diretor da SOLU9.com

Na segunda metade do mês de maio o Brasil foi assolado por ondas de aflição, êxtase e tristeza, tudo meio misturado. Não, não foi culpa do governo, nem da oposição, muito menos da seleção brasileira de futebol. Os responsáveis por isso são “celebridades” dos novos tempos, pessoas que atingem nossas mentes e corações (ou não..) da noite pro dia e ganham poder de influenciar nossas preferências e comportamento.

Novas referências

O mês começou com o frisson pelo casamento do ano. Não, não era uma artista das novelas das 8 com um pagodeiro, mas sim de Carlinhos Maia, “Youtuber” e inserido na categoria de “digital influencer”. Qual o tema dele? Bom, podemos dizer que é o humor. Começou fazendo uns videozinhos na varanda de casa contando os “causos” com a mãe e “bombou”. Hoje aparece não só no canal digital mas também em eventuais programas de TV dando palpite sobre isso ou aquilo (musica, vida dos artistas etc). Tem milhões de seguidores vibrando com suas resenhas. Casou-se com seu namorado numa festa concorrida e celebrada por uma legião de outras celebridades de igual origem e porte. Anita (essa você deve ter ouvido pelo menos falar) era uma das madrinhas, de quem ele se vangloria de ser amigo íntimo. Ela é uma espécie de musa inspiradora dessa categoria de celebridades digitais, está no topo da cadeia, e é solicitada para campanhas que vão de preservativo a automóveis, passando por celular e o que mais precisar ser entregue às massas.

Um mundo próprio

O casamento de Carlinhos rendeu muito assunto nesse universo paralelo que você ignora. O mais quente foi a lavação de roupa suja com Whindersson Nunes, outra celebridade forjada graças a popularização do smartphone e da disseminação do wifi. A história é a mesma, vídeos caseiros e divertidos. Hoje o moço tem um jatinho e lota estádios no Brasil, contando as mesmas piadas que contava de graça na web. Casou-se com outra “famosa” recentemente, Luisa Sonza, e está estafado. Abalou seus fãs dias atrás revelando em público que estava deprimido, e esse seria motivo para ter faltado ao casamento de “Mr. Maia”, de quem ele seria padrinho. A recusa causou a revolta do noivo, queixas na web e grande mobilização dos seguidores (fã não existe mais, sorry...) contra e a favor. Quanto tempo dura um assunto desses? Não sabemos, depende do próximo “bafo”. Este foi atropelado pelo acidente aéreo que vitimou Gabriel Diniz dias atrás. Talvez você, assim como eu, tenho sido apresentado a ele no anúncio de sua morte em longa reportagem do “Jornal nacional”. Pra mim foi uma história curta, pros seus fãs (nesse caso talvez ainda caiba, ele era um cantor) certamente não. Essa noção sobre que tempo é curto, longo, rápido, lento varia na medida do nosso interesse no fato. Para os fãs (ou seguidores ??) brasileiros da banda Coreana (???) BTS por exemplo, esperar 3 dias na fila só pra pegar um lugar melhorzinho no show é pouco, tem gente que esperou mais.... Enquanto isso, você se refastelava na poltrona para assistir ao último episódio de Game Of Thrones (GOT para os íntimos), a série da HBO campeã de audiência em todos os tempos (o que significa na verdade umas duas décadas). Não menos importante porém perdendo cada vez mais visibilidade, chegava ao fim mais uma novela das 8. Não vi, mas certamente alguém foi morto, preso ou reencontrou o grande amor da vida.

Quanto mais, melhor?

Agora a pergunta que vale um ingresso na final dos Play Offs da NBA (com uma audiência global contada às centenas de milhões): isso é bom ou ruim? Está mais fácil, ou mais difícil?

Depende. Difícil pra quem? Fácil para o quê? A discussão mais importante não é essa, o que importa, como sempre alerto aqui, é que você entenda o que está acontecendo, assimile as novas práticas. A menos que você esteja numa mesa de discussão sobre sociologia, educação, formação de cultura, não interessa se a qualidade do que os “formadores de opinião” e os demais eventos mobilizadores de atenção do público é positiva ou negativa. Eles são os novos focos de atenção, e atingem as pessoas de uma forma orgânica, fazem parte das suas vidas, formatam seus valores, suas preferências, suas referências. Você não precisa gostar nem aprovar, mas entender que é assim que as novas (e mesmo as velhas ..) gerações estão compondo seus repertórios. Filósofos, educadores e empresários também são celebridades digitais, e são cada vez melhor assessorados neste sentido. Duvida? Não caia nessa. Ande pelas ruas, preste atenção nas pessoas. Todas, de todas as cores, gêneros, idades, todas andam com a cara grudada no celular. Elas consomem informação o dia inteiro, e cada vez mais na forma de bytes convertidos em imagens e sons. A Aldeia Global prevista por McLuhan na metade do século passado materializou-se. Nós não apenas sabemos em tempo real o que está acontecendo em qualquer lugar, sem intermediários, mas sabemos de muito mais do que somos capazes de absorver e reter. As máquinas tem capacidade de processamento infinita, nós não logo, somos seletivos, e tem muita coisa para “selecionar”. A diferença é que tem gente que escolhe, e tem gente que é escolhida, conduzida. É preciso entender como lidar com cada um desses grandes grupos.

5 passos

Nesse cenário de energia quase infinita o importante, repito, não é saber tudo mas entender como as coisas funcionam. Não importa se você nasceu nos últimos 20 anos e cresceu no meio disso ou não, a chance de se perder é igual, seja por dificuldade de adaptação ou, no outro extremo, pela falta de capacidade de sair do turbilhão, e perceber o todo. Não tenho a pretensão de escrever uma fórmula mágica, mas chamo a atenção para alguns pontos importantes de reflexão:

  1. Tecnologia X comportamento – esse mundo não se resume à máquinas, nem a recursos digitais. Ou você olha para as pessoas ou não vai entender o que elas querem, como elas se comportam e o que a sua oferta pode fazer por elas. A tecnologia sim construiu uma estrada, moldou comportamentos, mas ela é um canal. Seu foco sempre será nas pessoas. Aprenda a lidar com essas duas variáveis. Entenda quem é seu verdadeiro público, e como atingi-lo.

  2. Autoria X consumo de informação – todos nós, em maior ou menor proporção, estamos consumindo informação de um novo jeito, então também precisamos aprender a produzir informação por esses novos canais. Aprenda e pratique. Rápido. Seja uma referência para o seu público, e diminua a sua dependência desses mobilizadores da opinião pública.

  3. Solução X ferramenta – estamos vivendo um mundo de soluções prontas. Pense na sua oferta como alguma coisa que resolva o problema de alguém, tão mais integralmente quanto possível. É simples. Quando alguém inventou o Uber, passou na frente daquele que inventou um aplicativo para chamar um táxi. Eles deram uma alternativa para o já conhecido táxi, mais barato e mais ágil, e com mais informação, e apesar de uma ou outra deficiência de implantação conquistaram espaço. Importante entender isso, se você quer vender uma ferramenta que vai gerar trabalho até chegar a uma solução, precisa avaliar a disposição do seu “cliente” de absorver isso. Vai ser mais fácil as pessoas lembrarem de você se puder resolver integralmente um problema delas, sem mais aquisições.

  4. Readéque sua comunicação - novos tempos, novas mídias, novas recursos. Adapte-se. Aprenda. Consuma.

  5. Readéque suas entregas – se tudo isso mudou, o jeito de consumir e receber também mudou, e sua estrutura pode não estar preparada para isso. Embalagens, modelos, logística, preços, apresentação de produtos, processos internos, controles. Tudo vai mudar, e provavelmente conviver com diferentes modelos de operação para diferentes canais. É complexo, eu sei....

Não por acaso mencionei referências que foram destaque alguns dias atrás, 2 ou 3 semanas no máximo. Elas já não estão mais na mídia, já não chamam mais atenção, ou chamam pelo motivo errado (pense no Caso Neymar, pense no Barcelona, patrocinado por grandes empresas e que ficou de fora dos principais torneios que disputou). Parece assustador, mas é assim que funciona, e a solução é pensar como o seu público. Acompanhá-lo, atendê-lo e, sempre que possível, encantá-lo, surpreendê-lo. As referências midiáticas nesse nosso mundo de comunicação frenética e relações “líquidas” continuarão a ser importantes, mas impossíveis de controlar, então seja tanto quanto possível a melhor referência e a primeira lembrança positiva do seu público. Vai sair mais barato e vai durar mais. Nisso eu aposto.

Dúvidas, perguntas, estamos por aqui. Sempre alerta gente, e boa semana!

Um abraço,

Ricardo Daumas

daumas@solu9.com.br


 
 
 

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