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Inovação: manual de sobrevivência.

  • Ricardo Daumas-SOLU9.com
  • 18 de mar. de 2019
  • 6 min de leitura

“Inovar não é mais uma atitude ambiciosa, característica dos mais ousados. É uma necessidade, para todos nós.”

Os papas do mercado, sinalizadores de tendências, gostam de dar nomes às coisas com palavras complicadas, siglas enigmáticas, não raro em inglês, mesmo para coisas simples. Mas dessa vez temos uma denominação simples para um conceito complicado, ou no mínimo meio vago: inovação.

Inovação digital, disruptiva, sustentável, cognitiva, comportamental, tecnológica, funcional. Não importa a tendência, são tantas que o movimento de mudança, de ação continua, é que tem que ser assimilado como um novo comportamento, o que não é simples. Pessoas e empresas preferem não mudar. Dá trabalho, mexe com estruturas, culturas, práticas, mercados, mas não tem jeito. O mundo mudou, de verdade.

O tempo das coisas

Quem já viveu algumas décadas, e pelo menos uma delas inteira no século passado percebe isso mais fácil. Nós vivemos mais, cada vez mais, morremos mais tarde, e as consequências disso estão promovendo mudanças importantes na sociedade. Temos que trabalhar por mais tempo para vivermos bem, e a sociedade também não está organizada para isso, dar trabalho para os mais velhos. Temos que mudar, inovar, criar novas soluções que premiem esse “ganho” de vida, e não o transformem num peso para todos. Em contrapartida, as coisas duram menos, muito menos, e mudam mais rápido, cada vez mais rápido. Duvida?

Se você já viveu pelo menos 60 anos ainda é jovem e apto a produzir para os padrões atuais, e provavelmente já teve na sua casa um rádio à válvula como principal canal com o mundo. Tem boas chances de ter nascido em casa, pelas mãos de uma parteira, só que não tem qualquer registro disso. Se viveu 50, conviveu intimamente com uma TV preto e branco com 3, talvez 4 canais à disposição para saber o que acontecia por aí, e quando criança mandava o seu José do armazém anotar na caderneta as compras que você teve que ir lá buscar. Se chegou aos 40 já nasceu vendo o mundo colorido por essa mesma TV, e teve um telefone fixo em casa, talvez com uma extensão só para o seu quarto. Assinou um jornal e uma revista semanal, pelo menos. Se viveu 30, começou a se familiarizar com equipamentos de tecnologia digital. Livros, discos e filmes em fita cassete foram substituídos por CDs e DVDs. Provavelmente foi apresentado, mas não teve tempo de adquirir um Disc-laser, eles saiu do mercado antes. Se tem 20, é quase certo de que já passou boa parte da vida à frente de um computador, que virou um tablet, um media-player “tipo” Ipod, evoluiu para um smartphone, e provavelmente vai ter dificuldade em explicar como se revela um filme fotográfico ou como se troca a fita de uma máquina de escrever. Sua vida foi fartamente registrada em fotos e filmes digitais, mas você não faz a mais vaga ideia do que seja um aparelho de telex, nunca viu um fax e não entende para que serve um telefone público, pois todo mundo tem seu próprio telefone (claro né ?).

Num espaço de 3, 4 décadas o mundo mudou, muito rapidamente. Coisas que levaram anos de estudo para serem desenvolvidas e integradas a sua vida foram substituídas por outras, ou simplesmente desapareceram. O padrão é outro. As coisas mudam, cada vez mais rápido, e o nosso tempo para aprender a usá-las é cada vez mais curto. Alguns jamais aprenderão, e a consequência disso é drástica. Suas profissões minguaram, seus mercados desapareceram ou perderam a importância, sem que conseguissem reagir. Com as empresas, também é assim.

Pessoas e empresas

Nada disso é exatamente novidade, mas o ritmo assusta. O principal complicador é que estamos todos inseridos num ambiente competitivo onde as regras são iguais para todos, mas os recursos são diferentes. Uma parte das pessoas foi educada decorando tabuada, a outra buscando respostas na calculadora, e a outra no Google. Há muito publicado sobre o processo de assimilação de informação das gerações, e nem tudo se resume ao estereótipo comum de diferenças entre baby boomers e millennials, o buraco é muito, muito mais embaixo. O jeito de compreender, construir e assimilar as coisas é outro, na raiz. A relação com trabalho, propriedade, família, ambiente e tudo o mais que você possa imaginar mudou, mas o seu trabalho ainda tem que atender a todas as gerações, com diferentes habilidades, percepções e valores tanto da parte de quem produz quanto de quem recebe. Dá pra perceber a complicação?

Se para as pessoas é complicado, imagine para as empresas. Já falamos aqui nesse espaço da complexidade para mudar a cultura de uma empresa, é tarefa difícil. Envolve pessoas, processos, equipamentos, contratos, espaços físicos, dados arquivados etc etc....mas acima de tudo envolve vontade, disposição para mudar, olhar atento, informação e energia, em todos os níveis, e uma atitude legítima e honesta neste sentido.

É fácil errar nesse movimento, pois a ação mais comum é adotar uma prática supostamente inovadora, alinhada com o novo mercado, a nova economia, como por exemplo instalar um canal de comércio eletrônico, um site para vendas e relacionamento. Isso não vai ser bem-sucedido se a empresa não perceber que este canal existe para relacionar a empresa e o produto proposto com as pessoas, e com o mercado. Que exige uma visão nova de como se comunicar, cobrar, anunciar, promover, contabilizar, distribuir, abastecer etc etc. Ou seja, não se trata de aquisição pura e simples de tecnologia, mas de compreender as necessidades de um novo mundo, expressas nas demandas do consumidor e do mercado.

Em práticas de Sustentabilidade também encontramos bons exemplos de como fazer a coisa certa do jeito errado. Ações simples como poupar os copinhos de plástico no seu bebedouro podem ser educativas, mas o consumidor cada vez mais fará opção por empresas que se relacionem de uma maneira transparente e responsável com a sociedade. As questões relevantes como uso de mão de obra escrava ou abusiva, uso de agrotóxicos e poluentes, diversidade de gênero e raças estão cada vez mais na pauta de qualquer um, e precisam ser assimiladas como práticas naturais da empresa, e impactar nas suas entregas. Não se trata mais de uma vantagem, é uma obrigação e um valor natural, e assim será cobrado.

Como não ser atropelado?

O grande desafio então seria o de identificar os movimentos de mudança e assimilar as novas práticas com agilidade, mas como fazer isso?

Há várias metodologias e ferramentas reconhecidas, processos úteis e aplicáveis em qualquer nível, mas a principal mudança está em você. Qualquer um de vocês, de qualquer geração. As mudanças já acontecem, como relatei, nos novos processos. Observem mais uma vez o ambiente de e-commerce. Apesar de já ser habitual (ao menos 1 compra por ano) para quase 30 milhões de brasileiros ainda é um processo novo para a maioria das empresas nacionais, as vendas totais por este canal ainda não representam 5% no total do varejo nacional. Não obstante ser um novíssimo canal, também está submetida às pressões por mudanças e inovação. Observem por exemplo o segmento de Livros, CDs e DVDs, que 10 anos atrás lideravam as vendas no país por este canal, tanto em volume quanto em faturamento. Hoje, segundo o último relatório do E-bit, os livros, apostilas e assinaturas somados chegam ao 7° lugar no ranking em volume, e 10° em faturamento. CDs e DVDs, nem aparecem na conta. No espaço de uma década mercados inteiros mudaram, e continuarão a mudar. Podemos prever algumas dessas mudanças, previsões não faltam, mas a única certeza é de que elas virão, e que não temos controle sobre isso. Nós não controlamos o ambiente, mas podemos atuar em nosso comportamento e de nossas empresas, para manter uma atitude de atenção e uma estrutura flexível, capaz de assimilar sem medo as novas possibilidades, e agir com rapidez e precisão. Isso é inovação, é um novo jeito de viver, com a certeza de que as certezas de hoje não se perpetuam, e isso não dói muito quando conseguimos ver novas coisas como uma evolução natural de nossas vidas. É o que podemos.

Pessoas que admiro gostam de repetir uma máxima que diz que, nesse ambiente de hoje, só os neuróticos sobrevivem. Eu respeito, conheço vários neuróticos sobrevivendo, mas eu não quero sobreviver, quero viver, e bem, então fico alerta. Só o pensamento livre e o espírito disposto nos permite viver plenamente, e a resiliência ajuda muito. Persevere, mas desarme-se, para viver bem neste mundo é importante compreende-lo.

Um abraço e boa semana para todos.

Ricardo Daumas - dócio diretor da SOLU9.com

daumas@solu9.com.br

 
 
 

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